Por Gabriela Borges
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Há cinco semanas em funcionamento em Pelotas, os pontos fixos de testagem foram responsáveis pela detecção de 30% dos casos positivos para a Covid-19 no município. A iniciativa faz parte da fase III do programa Testar RS, do governo estadual. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), desde o dia 21 de dezembro - quando tiveram início os atendimentos -  até a última quinta (27), foram realizados 12.225 testes de antígeno, sendo que cerca de 25% tiveram resultado positivo (2.995). Isso significa que a cada quatro pessoas que procuraram os locais, uma estava infectada.

Os primeiros pontos fixos de testagem disponibilizados foram no Mercado Central e no Pelotas Parque Tecnológico. Na sequência, a SMS fez a migração para a antiga Estação Férrea - onde funciona o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), na praça Rio Branco -  e para a rua Marcílio Dias, 357, esquina com a rua General Telles, de segunda a sexta feira; e para a UBS Laranjal, aos sábados e domingos. Nesse momento, a Secretaria se prepara para a abertura do quarto ponto, localizado na Associação Rural de Pelotas, na avenida Fernando Osório, 1754, a partir desta segunda-feira (31). Também na segunda, o Cerest passará a atender somente grupos prioritários - como idosos, gestantes e pessoas com deficiência. Todos os locais ficam abertos das 9h às 17h, sem fechar ao meio dia.

O projeto visa o rastreio ampliado de demandas espontâneas da população. Pela Portaria nº 815/2021 da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Pelotas e outras cidades do Rio Grande do Sul recebem recursos para ofertar o serviço, dando como contrapartida a garantia de oportunizar os locais para testagem e profissionais para realizarem os testes.

No lançamento da 3ª fase do programa Testar, em 20 de outubro, a secretária da Saúde do Rio Grande do Sul, Arita Bergmann, afirmou que o objetivo da testagem em massa em pontos estratégicos seria realizar o rastreamento de possíveis casos de Covid-19 entre pessoas que não apresentam sintomas da doença. “Esta é uma demonstração de que estamos preocupados em manter os baixos índices da pandemia no Estado e, mais ainda, de seguir para um novo momento no futuro em que essas medidas não serão mais necessárias”, apontou.

Para quebrar as cadeias de transmissão

Segundo a SMS, os dados recolhidos durante a testagem, incluindo os resultados, garantem que a Secretaria poderá monitorar e acompanhar o isolamento dos casos positivos e, por consequência, quebrar as cadeias de transmissão do vírus entre as pessoas. Com os resultados, também é possível estabelecer novos protocolos e orientar a população quanto às medidas de proteção necessárias. “A principal vantagem de coletar o teste rápido é a agilidade do resultado e isso facilita o processo de isolamento das pessoas infectadas, o que faz com que consigamos quebrar as cadeias de transmissão”, destaca Aline Machado, diretora da Vigilância em Saúde.

Aline aponta que as características da população atingida pela Covid-19 e que procura os pontos de testagem são diversas. “Podemos observar um perfil bastante diversificado de pessoas nos postos de testagem por vários motivos, sejam trabalhadores do comércio ou cidadãos que tiveram contato com pessoas infectadas. Há uma pluralidade grande de grupos”, afirma.

Para realizar a testagem, a SMS orienta que a pessoa leve os documentos pessoais (identidade, CPF e/ou cartão SUS). No caso das crianças, que também são testadas nesses pontos, deve ser apresentado, além de um documento de identificação do menor (que pode ser a Certidão de Nascimento, para quem não possui outro), também o documento do responsável que está lhe acompanhando.

Cenário de Pelotas preocupa

Para o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a testagem da população por livre demanda é importante, mas iniciou tarde. “Certamente deveria ter iniciado muito antes, mas mesmo assim é bem-vindo. Programas de testagem em larga escala estão entre as intervenções que comprovadamente funcionam para reduzir a transmissão do vírus”, ele ressalta.

Em nota técnica divulgada na última terça, o Comitê UFPel Covid-19 sinalizou a piora do cenário da epidemia em Pelotas - em virtude da alta circulação da variante Ômicron - e chamou atenção para a ocupação máxima de leitos de UTI no município, que chegou a 100% no início da semana. Somente na sexta-feira, o município identificou 1.290 novos casos de Covid-19. Conforme dados do Painel Covid-19, a taxa atual de ocupação geral de leitos é de 110,3%, sendo que entre os casos mais graves, 15 dos 16 leitos em UTI Covid estavam com pacientes internados, correspondendo a 93,8%.

O Comitê alertou que, apesar das vacinas reduzirem os casos graves da doença, a alta incidência de positivados (inclusive entre profissionais de saúde) pode pressionar o sistema. Por isso, enfatizou a necessidade de ampliar as medidas de distanciamento social, a ventilação cruzada dos ambientes e o uso correto de máscaras de boa qualidade; incluindo o fortalecimento do suporte social às populações em vulnerabilidade, com a distribuição gratuita de máscaras e o apoio para aqueles que precisam fazer isolamento, por exemplo.

No documento, o grupo de trabalho também destacou a necessidade de que os órgãos competentes busquem estratégias para evitar as longas filas para vacinação e testagem, seja porque elas “são uma barreira para o acesso, quanto pelo fato de se tornarem um foco de aglomeração e contaminação”.

Questionada, a SMS afirma que trabalha com estratégias de contenção, citando a ampliação de locais de testagem; a transformação do ponto do Cerest em um espaço exclusivo para atender o público prioritário; a criação do sistema de agendamento na vacinação infantil; e o Trailer da Vacina, que leva imunizantes contra a Covid-19 e do calendário de vacinação nacional de adultos aos bairros, garantindo que as pessoas não precisem se deslocar para muito longe de suas residências e aguardar por longos períodos para receber as aplicações.

Testagem na Região Sul

Além de Pelotas, São Lourenço do Sul, São José do Norte e Rio Grande também integram a 3ª fase do Testar RS. Até a última quinta-feira o container Barrinha, em São Lourenço do Sul, tinha realizado 1.093 testes de antígeno, 33% com resultado positivo. O local abre de segunda a sexta, das 17h às 20h, e nos finais de semana e feriados, das 13h às 19h. Já São José do Norte realiza testagens no Ambulatório da Praia do Mar Grosso nos finais de semana ou feriados. Até ontem, em três dias de atendimento, foram feitos 220 testes, sendo que 61 tiveram resultados positivos (cerca de 36%). Contatada pelo DP, a Secretaria de Saúde de Rio Grande não enviou os seus dados até o fechamento da edição.